Quem viaja pelas estradas entre cidades do território do sisal
atingidas pela pior seca das últimas décadas no estado da Bahia, se
espanta com a sequência interminável de carcaças de bovinos a apodrecer
ao lado das pistas. A morte de cabeças de gado, aos milhares, é, para o
viajante, o impacto mais visível e chocante da estiagem de quase três
anos que afeta 582.331 habitantes, dos quais 333.149 vivem na área
rural, o que corresponde a 57,21% do total.
Um exemplo da mortandade está no km 10 da BA-381, quase na chegada da
cidade de Cansanção, trecho que liga a cidade de Itiúba. À vista, na
margem esquerda da estrada (Itiúba/Cansanção), dezenas de carcaças de
bovinos representam um aviso sinistro para os passantes. Depois dali, a
quantidade de carcaças é tanta que chega a ser um componente da paisagem
em todo trecho.
São diversos cálculos de acordo o prefeito de Cansanção, Ranulfo
Gomes (PSD), todos alarmantes sobre a pecuária no município de quantos
bovinos já morreram e vão morrer, pois as previsões meteorológicas não
são animadoras. “80% do rebanho acabou. Muitos morreram e outros os seus
proprietários tiveram que transferir para outros municípios. Eu mesmo,
fui obrigado a levar boa parte do rebanho para Itapetinga”, lamentou
Gomes.
Ranulfo Gomes falou ao CN que a área mais afetada do município é
chamada de Beira D’Água, onde está localizada a bacia leiteira e gado de
corte. “O problema é sério tem todo município, mas agravante na região
das comunidades de Pocinho e Bela Vista”, contou o social democrata.
Para o prefeito, a falência está batendo à porta das pessoas que
vivem na zona rural, quer na lavoura do sisal, que praticamente não
existe, agricultura familiar e na criação de bovinos e pequenos animais,
devido à seca que assola o município. “Sisal murcho, motores parados,
pastos dizimados, tanques, aguadas, açudes secos e animais mortos nos
levou decretar situação de emergência”, concluiu.
Embora a visão impressione, as carcaças expostas nas estradas são uma
parte menor da tragédia animal que assola o município de Cansanção.
Segundo o pecuarista Fernando Alves Barbosa, residente em Senhor do
Bonfim e proprietário de terras em Itiúba, aquelas carcaças de bois são
dos animais que morreram em fazendas vizinhas à pista. “Por hábito, nós
proprietários tiramos os restos mortais de nossas terras e os jogamos
onde não há dono, ou seja, nos acostamentos”, falou Fernandinho, como é
conhecido.
Ao contrário de Fernandinho, o pecuarista Antonio Lopes, proprietário
de uma propriedade no município de Jaguarari, ele não joga os animais
mortos na beira das estradas. O argumento do criador é o de não
considerar correto o despejo das carcaças em áreas públicas. “O boi
morreu aqui, então aqui ele fica. Acho errado jogar fora”, disse “Seu”
Antônio, 70 anos.
Por: Valdemí de Assis / fotos: Raimundo Mascarenhas
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