O autor do massacre de Jussiape, Claudionor Galvão de Oliveira, o Colon,
43 anos, saiu de casa na manhã de sábado sabendo exatamente o que ia
fazer. Conforme acreditam os amigos e testemunhas, o ataque de fúria foi
planejado. Saiu de casa com uma espingarda nas mãos, um revólver
calibre 38 na cintura e munição amarrada ao pescoço, pronto para não
mais voltar.
Seu
primeiro alvo foi o diretor da Embasa, Oderlange Pereira Novaes, 46
anos, que tomava uma cerveja em um bar, na praça da cidade. Entrou no
local por uma porta lateral, avisou ao proprietário que a dívida que
tinha a receber, fosse paga a uma prima, ficou diante da vítima e
desferiu o tiro de espingarda à queima-roupa. Na cabeça, sem chances de
defesa.
“Todo
mundo na cidade tinha medo dele, porque era um grande caçador de
veados, sabia atirar”, observa o irmão de Oderlange, o comerciante Edson
Pereira Novaes, de 45 anos. “Ele chegou sem dar uma palavra, depois
saiu andando tranquilamente, trocando a cápsula da espingarda, uma
frieza impressionante”, relata Luiz Rodrigues, 52 anos, que estava na
mesa do bar na hora do ataque.
A
partir de então, foi quase uma hora de pânico e correria na pequena
Jussiape, a 530 quilômetros de Salvador, na área sul da Chapada
Diamantina. Comerciantes fecharam as portas e as pessoas corriam. Um
policial chegou a tentar deter Colon, mas foi atingido na perna.
Determinado,
Colon foi em direção à casa do prefeito reeleito Procópio Alencar
(PDT), de 75 anos, e encontrou, no caminho, a primeira-dama Jandira, 71,
que ia à feira da cidade. Atingiu ela com um tiro na nuca e seguiu para
o consultório médico de Procópio, que fica do lado de sua residência.
“Ele disse ao meu pai: ‘matei sua esposa e vim aqui te matar’. Meu pai
começou a chorar e dizer que ele não fizesse isso, se não acabaria com a
própria vida”, relata o filho de Procópio, Robson Alencar.
Colon não atendeu ao pedido de
clemência: pediu ao paciente que presenciou o diálogo que saísse e
somou mais uma morte com um tiro na cabeça. “Na saída, ao ver minha mãe
tendo espasmos, deu mais dois tiros para confirmar a morte”, relatou
Robson.
Sua
lista era mais longa, e até a chegada de reforço policial, ele teve
tempo de ir à casa de diversos inimigos que esperava levar consigo. O
principal deles era o presidente da Câmara e vice-prefeito eleito,
Gilberto Freitas (PSC), que quando soube que estava na mira, trancou-se
na Câmara Municipal.
Colon
foi até a casa de Gilberto, onde estava sua mulher, Eliene de Freitas,
de 28 anos. Após dezenas de chutes na porta, foi para a casa do pai do
vereador, Nadir Freitas, de 82 anos. Chegou a apontar a arma para o
idoso, mas desistiu de executa-lo após apelos de um neto.
Partiu
em busca também de Edson, irmão de Oderlange: “Eu me tranquei dentro do
salão. Ele passou lá, tentou arrombar, mas não conseguiu”. Na sua saga,
foi ainda nas casas de João Batista Trindade, dono de um posto de
gasolina, do ex-prefeito Sílio Souza, e de um rapaz de prenome Girlênio,
a quem creditava a morte por envenenamento de um cachorro de caça seu.
Seu
último alvo foi um policial militar que chegou após a notícia da
matança. Givanildo dos Santos Alves foi baleado na cabeça e segue
internado em estado grave, no Instituto Brandão de Reabilitação, em
Vitória da Conquista.
O
atirador morreu no confronto com os PMs. O corpo dele foi enterrado no
início da manhã do domingo (25), mas nenhum familiar ou amigo de
Claudionor foi ao cemitério assistir ao sepultamento. Alguns moradores
de Jussiape estenderam faixas pretas na frente das casas em sinal de
luto pela tragédia.
Motivação
O
motivo de toda a discórdia gira em torno da concessão de um quiosque
público, onde Colon mantinha um bar. Ele teve o direito de explorar o
local adquirido em 2009, quando Vagner Neves Freitas, amigo pessoal, era
prefeito. Após a cassação do aliado em 2010, naquele mesmo ano quem
assumiu foi Procópio Alencar, que logo achou problemas na licitação e
resolveu cancelar o contrato uso do ponto. Na eleição deste ano, Vagner
estava inelegível, mas colocou na disputa sua mulher, Vânia Novais, que
recebeu apoio de Colon. Ela foi derrotada.
“A lei foi feita para o prefeito roubar à vontade”
O
ex-prefeito Vagner Freitas (PTB) foi cassado em junho de 2010 por
quebra de decoro, após ter proferido uma série de declarações polêmicas
na cidade, a exemplo de: “A lei foi feita para o prefeito roubar à
vontade. Ele pode roubar mesmo, que não acontece nada. A única verdade é
essa: a lei foi feita para o político roubar à vontade. É pura mentira.
Lei de responsabilidade fiscal é mentira”.
“Vagner,
que já cumpriu pena no presídio do Carandiru, em São Paulo, por crime
de formação de quadrilha. Ele também fazia vários ataques à Câmara
Municipal e vereadores. Inclusive, sua cassação foi feita pelos
vereadores do município: “Vereador só vota por dinheiro! A mamadeira
quebrou!”, disse à época. Depois de cassado, o médico Procópio Alencar
assumiu. Este ano, Procópio concorreu contra a esposa de Vagner, e
ganhou.
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