segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Uma reflexão Sobre Igor Kanário, por Luar Montes

O blog Geraldo José recebeu mais um texto sobre o "fenomeno" Igor Kanário, desta feita da jornalista juazeirense radicada em Salvador, Luar Montes. Os amigos pediram que o texto que ela publicou no facebook fosse replicado no Blog. Confira:

Em meio a um emaranhado de textos que repercutiam a explosão de Igor Kanário no carnaval de Salvador, tentei me conter, mas como um nato jornalista não obtive sucesso. Não me surpreendi ao escutar formadores de opinião da grande mídia intular o “príncipe do gueto” como o grande fenômeno da folia momesca, já que infelizmente o jornalismo baiano é politico e organizacional. O que me surpreende, na verdade, são pessoas do bem, defenderem o voo do Kanário, com argumentos ínfimos que variam entre “ele representa a favela”, “ele incomoda a burguesia”, “ele é um líder. Um artista rebelde.”

Nasci no Uruguai, cidade baixa, fui criada lá. Meu esposo é de uma comunidade chamada dique pequeno, entramos e saímos de lá qualquer hora. Meu filho caminha pelas ruas desses lugares e é conhecido por todos, inclusive pelos marginais. Ou seja, de favela eu conheço. Conheço tanto que sou capaz de dizer que Kanário não representa o gueto soteropolitano. Nesses lugares conheço pessoas honestas, trabalhadores, de ótima índole, que lutam para crescer e educar seus filhos de maneira correta. Pessoas que batalham para que sua cria não se envolva com drogas. Portanto, o Kanário não os representam. Representa sim, uma parcela perdida não só do gueto, mas de toda a cidade. Representa os detentos, traficantes, ladrões e alguns trabalhadores honestos que ainda não foram capazes, ou não tiveram tempo de interpretar as letras das músicas que ecoam pela cidade. “Pega o prato faz a linha/ dar o tiro na farinha”, “Eu não sou de baixar a cabeça pra ninguém /Se vier tem/ se vier eu bagaço”, “Sai da frente que lá vem a zorra” “Eu vou pegar os caras! Eles não são de nada!”.

Enfim, meus caros, Igor Kanário, na minha opinião, generaliza e marginaliza as comunidades de Salvador quando se auto intitula “príncipe do gueto”. Rebelde sem causa e sem poesia, o “gritador” para mim não passa de um baderneiro bem empresariado e agora patrocinado pela prefeitura de Salvador ( ou seja, por mim, por vc, por todos nós...)
Luar Montes

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