Apesar de alertados por pedestres, os policiais não pararam a viatura Foto: / Reprodução de vídeo
Carolina Heringer, Ligia Modena e Roberta Hoertel
Eram cerca de 9h desse domingo, quando uma viatura do 9º BPM (Rocha
Miranda) descia a Estrada Intendente Magalhães, no sentido Marechal
Hermes, na Zona Norte do Rio, com o porta-malas aberto. Depois de rolar
lá de dentro e ficar pendurado no para-choque do veículo apenas por um
pedaço de roupa, o corpo de uma mulher foi arrastado por cerca de 250
metros, batendo contra o asfalto conforme o veículo fazia
ultrapassagens. Apesar de alertados por pedestres e motoristas, os PMs
não pararam. Um cinegrafista amador que passava pelo local registrou a
cena num vídeo.
A mulher arrastada era Claudia Silva Ferreira, de 38 anos, baleada durante uma troca de tiros entre policiais do 9º BPM e traficantes do Morro da Congonha, em Madureira.
Em depoimento à Polícia Civil, os PMs disseram que a mulher foi
socorrida por eles ainda com vida, e levada para o Hospital Carlos
Chagas, em Marechal Hermes, mas não resistiu. Já a secretaria Estadual
de Saúde informou que a paciente já chegou à unidade morta. Ela levou um
iro no pescoço e outro nas costas.
- Foi revoltante ver aquele corpo pendurado. Eles iam ultrapassando
outros carros, e o corpo ia batendo. As pessoas na rua gritavam,
tentando avisar os policiais, mas eles não ouviam. Só pararam por causa
do sinal e, aí, conseguiram ouvir o que as pessoas diziam. Dois
policiais, então, desceram da viatura e puseram o corpo de volta no
carro - disse o cinegrafista.

Trajeto de 250 metros
A cena começou a ser registrada próximo ao número 796 da Estrada
Intendente de Magalhães, na altura da Rua Boiacá, e foi filmada
aproximadamente até o 878, onde fica uma agência da Caixa Econômica
Federal. A irmã de Claudia, Jussara Silva Ferreira, de 39 anos, ficou
chocada quando viu a imagem do corpo da irmã sendo arrastado. Revoltada,
ela quer que os policiais sejam punidos:
- Acham que quem mora na comunidade é bandido. Tratam a gente como se
fôssemos uma carne descartável. Isso não vai ficar impune. Esses PMs
precisam responder pelo que fizeram.
Antes mesmo de saberem o que havia acontecido com Claudia, familiares
tinham desconfiado de que algo pudesse ter ocorrido, já que viram o
corpo dela em carne viva ao chegarem no hospital.
- Achamos estranho quando vimos o corpo daquele jeito. Desconfiamos de
que tinha acontecido no trajeto até o hospital - relatou Diego Gomes, de
30 anos, primo de Claudia.
Thaís Silva, de 18, filha da vítima e a primeira a encontrá-la morta, já
tinha reclamado até mesmo da forma com que os policiais do 9º BPM a
socorreram:
- Eles arrastaram minha mãe como se fosse um saco e a jogaram para dentro do camburão como um animal - revoltou-se a jovem.
Vítima faria 20 anos de casada

Mãe de quatro filhos, Claudia, conhecida no Morro da Congonha como
Cacau, era auxiliar de serviços gerais do Hospital Naval Marcílio Dias,
no Lins. Nascida e criada em Madureira, ela ainda cuidava de quatro
sobrinhos. A vítima faria 20 anos de casada com o vigia Alexandre
Fernandes da Silva, de 41 anos, em setembro deste ano.
Em nota, a assessoria de imprensa da PM afirmou que os policiais do 9º
BPM trocaram tiros com criminosos durante uma operação no Morro da
Congonha, e um suspeito chegou a ser baleado. Ainda segundo a
assessoria, os policiais encontraram a vítima baleada na Rua Joana
Resende, ponto mais alto da comunidade. Ela foi levada para o Hospital
Carlos Chagas, mas não resistiu. A 29ª DP (Madureira), que investiga o
caso, esteve no local para perícia. Dois fuzis usados pelos policiais
foram recolhidos para serem periciados.
Revoltados, moradores do Morro da Congonha fizeram protestos pela manhã e
também à noite. Eles chegaram a fechar a Avenida Edgar
Romero. http://extra.globo.com
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