segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Tragédia em Santo Amaro: COBRAC abandona ex-funcionário contaminado por chumbo


A dona de casa Martinha Esquivel Santana, de 45 anos, entrou em contato com o Bocão News para denunciar o descaso que o marido dela, Antonio Faustino da Purificação, de 71 anos, ex-funcionário da Companhia Brasileira de Chumbo (COBRAC), empresa instalada na cidade de Santo Amaro, no Recôncavo Baiano, vem sofrendo ao longo dos últimos 30 anos, com as consequências da poluição e a contaminação por chumbo. 
 
Há mais de 30 anos, a empresa francesa Peñarroya instalou a COBRAC no município, que passou a se chamar Plumbum Mineração e Metalurgia Ltda, vendida em 1989, ao Grupo Trevo.  Em 1975, a COBRAC apresentou projeto, que foi indeferido pelo Governo do Estado da Bahia, para ampliar suas instalações industriais e aumentar a produção anual de chumbo de 30.000 toneladas para 45.000 toneladas.
 
Quando funcionava, a fábrica doava para quem quisesse o lixo da produção, a escória do chumbo. Com esse material venenoso que a Prefeitura de Santo Amaro pavimentou boa parte da cidade. Com o material venenoso a Prefeitura de Santo Amaro pavimentou boa parte da cidade. Hoje, as ruas já estão calçadas, asfaltadas, mas, em qualquer área pavimentada. Segundo a Universidade Federal da Bahia, isso contribuiu muito para a contaminação de 18 mil pessoas.
 
Em conversa com o site, Martinha Santana disse que o estado de saúde do marido é crítico. “Ele trabalhou na boca de forno da fábrica e sofre muito por falta de tratamento específico. Ontem mesmo foi uma situação muito difícil aqui em casa. Uma dificuldade grande para levar ele para Santa Casa de Saúde”, conta a mulher que em alguns momentos se emociona.

Ainda de acordo com Martinha, o marido já deu entrada na Justiça contra a COBRAC. “A gente colocou na Justiça, mas até o momento a gente não teve retorno de nada. Além disso, a empresa nunca deu qualquer tipo de ajuda a gente”, revela.
Segundo informações publicadas no site oficial da Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab), em fevereiro deste ano, a pedido do Ministério Público Federal na Bahia (MPF-BA), através da ação civil pública número 2003.33.00.000238-4, a Justiça Federal determinou que a União e a Fundação Nacional de Saúde (Funasa) promovam a implantação de um Centro de Referência para tratamento de pacientes vítimas de contaminação por metais pesados, no prazo de seis meses, a fim de reparar os danos sofridos por moradores, mas até o momento, as vítimas continuam sofrendo sem apoio. 
 
 
No entendimento do MPF, a União e a Funasa são corresponsáveis pelos danos, já que foram omissas em relação aos problemas de saúde que acometeram 80% dos habitantes de Santo Amaro, principalmente os ex-trabalhadores da mineradora. Apesar da desativação da Cobrac em 1993, a população ainda corre risco de contaminação por causa dos subprodutos de chumbo, cádmio, mercúrio, arsênico e zinco, que foram descartados no terreno próximo fábrica. Ainda segundo o site da Sesab, o local onde funcionava a fábrica não foi devidamente isolado, o que possibilita o acesso de pessoas e de animais na área contaminada. 
 
Segundo o site do órgão de Saúde, para evitar que a área seja acessada, a Justiça decretou a intimação pessoal dos representantes da Plumbum para que, no prazo de 15 dias, comprovassem providências para cercar a área, colocassem avisos para a população sobre o perigo de contaminação e elaborassem plano de permanência e revezamento de vigilantes na entrada da antiga fábrica. Além disso, a empresa deverá cumprir determinações que constam no relatório de inspeção, elaborado pelo Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema), a pedido do MPF/BA, a fim de evitar que a escória contaminada se disperse.
 
Durante duas semanas, a reportagem do Bocão News tentou entrar em contato com Secretaria da Saúde de Santo Amaro, mas não conseguiu falar com a secretária Mary Noranha que estava em reunião em todas as oportunidades.

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