Foto: Tayse Argôlo/Correio |
A irmã já o beliscou várias vezes. A mãe toda hora o procura para beijar-lhe a testa. O vizinho volta e meia aparece para ter certeza de tudo que aconteceu. Amigos, familiares e moradores de Alagoinhas, a 107 quilômetros de Salvador, estão convencidos de que Gilberto continua entre eles. Mas falta o fórum. Gilberto vai ter que ir à Justiça para apagar o seu nome do atestado que decreta a sua morte.
Para piorar tudo, antes mesmo da confusão, o lavador de carros havia perdido a carteira com os documentos. “Para o cartório eu ainda estou morto. Tenho que reverter esse atestado de óbito de alguma forma. Vou precisar de um advogado”, afirma. “Como ele vai tirar documentos? E morto tira documentos?”, preocupa-se a mãe de criação, Marina Souza de Santana, 61 anos.
Nos próximos dias, Gilberto vai à Defensoria Pública buscar um defensor que o ajude a fazer uma retificação de registro público. Antes, porém, vai à delegacia buscar o laudo do Departamento de Polícia Técnica (DPT) que comprova quem é quem. “Ele tem que vir aqui pegar a ocorrência, o conteúdo dos depoimentos e, principalmente, as identificações feitas através das impressões digitais”, aconselhou o delegado Glauco Suzart, responsável pelo caso.
Mas ainda falta a identificação definitiva do verdadeiro morto. Agora sabe-se que se trata de Genivaldo Santos Gama, 34 anos. Uma nova família, de Dias D’Ávila, já reconheceu seu corpo. Mas, diante de tudo o que já ocorreu, a polícia preferiu enviar as impressões digitais para o Instituto Pedro Melo, em Salvador. “Só depois liberaremos o corpo”, disse o delegado.
Genivaldo Santos Gama é natural de Salvador e morou por muito tempo em Dias D’Ávila. Lá, tem três entradas na delegacia, por ameaças e envolvimento em brigas. Há três anos, mudou-se para Alagoinhas, onde também já havia sido preso por ameaçar um homem com uma faca. “Sabe-se que também praticava pequenos furtos. Provavelmente por isso foi morto”, contou o delegado.
Gilberto, por sua vez, é visto por familiares e vizinhos como um sujeito trabalhador e boa praça. Entre os 12 e os 19 anos, morou em São Paulo com a mãe verdadeira, onde se tornou palmeirense roxo. Não esconde de ninguém que, no passado, se meteu em confusão e também foi preso. Ontem, se dizia chateado com um apresentador de TV que o chamou de bandido. “Andaram dizendo por aí que eu já fui preso. Isso tem muito tempo. Eu era jovem e cometi algo ruim para defender minha família. Mas já paguei por isso e não devo nada à Justiça”.
Espanto
Gilberto foi dado como morto no sábado, quando um outro lavador de carros muito parecido com ele foi assassinado. Seu próprio irmão reconheceu o corpo como sendo seu. A família atravessou a noite de domingo fazendo o velório. Na segunda-feira, quando todos se preparavam para levar o corpo para o cemitério, Gilberto causou espanto, desmaios, correria e muita festa ao aparecer vivo.
Não bastasse tudo, ainda tem o problema com a funerária, que não quer devolver um centavo dos R$ 300 de entrada que a família pagou pelo caixão. O estabelecimento ainda cobra uma das três parcelas de R$ 200 que falta pagar. “Tudo saiu R$ 900. Se a gente devolveu o caixão, por que eles não devolvem o dinheiro?”, questiona Gilberto.
Realmente, o caixão voltou para a funerária. Algo que, provavelmente, também aconteceu pela primeira vez nesta vida.
Fonte: Correio / Fotos: Reprodução
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