"Agora é só colocar o dedo na máquina" - Raymunda Luzia da Conceição, eleitora em BH |
Raymunda Luzia da Conceição tirou o título eleitoral no mês passado para votar pela primeira vez em outubro. Quando as mulheres ganharam o direito de votar no Brasil, em 1932, dona Raymunda tinha 21 anos, mas não pôde ir às urnas por ser analfabeta. Continuou assim até 1985, quando uma emenda constitucional permitiu que aqueles que não sabem escrever nem ler também escolham seus representantes. Só que, aos 74 anos, ela já não era mais obrigada a votar, e como não conseguia entender o que estava escrito nas cédulas desistiu de exercer seu direito. “Agora é só colocar o dedo na máquina. Sempre tive vontade de votar. Vou escolher um que seja bem entendido e tome conta do povo. Tem que colocar tudo na linha e dar um conserto”, analisa dona Raymunda, que completará 101 anos em agosto.
Em épocas de eleição ela se acostumou a encontrar políticos e cabos eleitorais que pediam para que ela votasse em determinado candidato. “Falava que não podia, pois não sei ler nem escrever. Agora eu posso, mas vou escolher direitinho”, promete, do alto de sua experiência centenária. Dona Raymunda admira dois políticos mineiros, que já morreram e entraram para a história do Brasil. “Meu marido falava muito do Tancredo Neves. Era um em quem eu queria ter votado”, revela. O outro político é o ex-presidente Juscelino Kubitschek. “Trabalhava para a Maria Eni, prima dele. Teve uma representação na Rua da Bahia e ela me levou lá. Um homem muito educado”, recorda-se.
Dona Raymunda nasceu em Carangola, na Zona da Mata, casou-se aos 17 anos e aos 44 veio para Belo Horizonte. Teve nove filhos (dois ainda vivos), 16 netos, 34 bisnetos e 25 tataranetos. É viúva há 25 anos. Criada numa fazenda em Alvarenga, no Vale do Rio Doce, sempre trabalhou como lavadeira, e fazia de tudo na roça. “Chegava em casa de madrugada, com as trouxas de roupa e um cabide cheio de ternos para passar dos clientes”, lembra uma das filhas, Maria Augusta da Silva.
Outro ofício de que dona Raymunda se orgulha é de ser restauradora de chapéus. Mostra as peças de madeira que usa para engomá-los. “Durante muito tempo ela criou os filhos restaurando os chapéus dos fazendeiros da região de Alvarenga”, lembra a filha. Dona Raymunda não se aposentou totalmente. Ainda ganha dinheiro com o crochê, que tece quase o tempo inteiro. Muito ativa, usa uma máquina de costura de 40 anos e, como não sabe ler, observa os desenhos da revista de crochê para copiar os tipos de pontos.
Sem óculos Costuma espalhar pela cama as toalhas, panos de prato e outras peças tecidas por ela, que não usa óculos para costurar. “Isso tudo já está encomendado. Vai para uma cliente da Barra da Tijuca, lá no Rio de Janeiro”, conta. “Tenho trabalhado muito, viu moço?”, completa em tom de brincadeira dona Raymunda. O Rio de Janeiro é uma das cidades prediletas, para visitar um filho. “Ela quer viajar sozinha, mas não deixo mais”, conta Maria Augusta.
Quando há algum passeio marcado dona Raymunda fica ansiosa. É a primeira a acordar, faz o café, toma banho e fica pronta, somente esperando os familiares para sair de casa. “Se a gente fala com ela que vai sair às 10h quando é 7h ela já está pronta, só esperando”, revela a filha. Se for pela vontade de dona Raymunda ela não tem limites. Gosta de capinar a pequena horta da casa no Bairro Guarani, na Região Norte de Belo Horizonte. O segredo para a longevidade e saúde é simples: “É só ter paciência que chega lá”.
Calendário
O prazo para fazer o cadastramento eleitoral termina em 9 de maio. Quem precisa deve procurar um cartório do Tribunal Regional Eleitoral (TRE-MG). Desde 2008, o Brasil ganhou seis milhões de eleitores, Minas Gerais 700 mil. O voto daqueles que têm mais de 70 anos é importante e representa 7,7% do eleitorado mineiro (1,140 milhão de eleitores).
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