A Bahia é o único estado do Norte e Nordeste que tem recebido testes
para a produção da substância que pode imunizar a população brasileira.
Das quatro vacinas testadas em todo o país atualmente, três estão sendo
verificadas em Salvador: uma produzida pela Universidade de Oxford, do
Reino Unido, em parceria com a biofarmacêutica AstraZeneca, e duas
desenvolvidas conjuntamente pelas empresas alemã BioNTech e
norte-americana Pfizer.
Nos casos das vacinas alemã e norte-americana, há uma parceria dos
institutos estrangeiros com organizações que estão em Salvador. No caso
da vacina de Oxford, os testes ocorrem nas instalações do Hospital São
Rafael, que pertence ao Instituto D’Or, responsável pelo estudo no
Brasil. Já a vacina da Pfizer e é testada em parceria com o Centro de
Pesquisa Clínica das Obras Sociais Irmã Dulce (Osid).
Os estudos para a realização da vacina da Pfizer foram aprovados pela
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e os testes começaram
na sexta-feira (07), com membros da própria Osid.
Coordenador do centro de pesquisa das Osid, o médico infectologista
Edson Moreira explica que a instituição possui esse núcleo científico há
mais de 20 anos e que a unidade costuma ser convidada a colaborar.
“Quando surge uma vacina nova, não é incomum que sejamos solicitados a
contribuir. Nesse caso em especial, a Pfizer já desenvolveu vários
estudos conosco. Nosso centro tem a chancela de ser de excelência, coisa
que é oferecida para pouco mais de 100 centros no mundo inteiro”, diz.
Embora a princípio sejam duas vacinas da Pfizer e BioNtech, na fase
final do teste será uma única formulação e o grupo que participará do
teste poderá ser escolhido aleatoriamente para tomar a vacina ou um
placebo. Do total de mil voluntários no Brasil, metade deles serão de
Salvador e a outra metade de São Paulo. A testagem para o público
externo das Osid deve acontecer gradualmente, mas a prioridade serão os
profissionais da saúde da própria organização, que estão na linha de
frente contra a covid-19.
“Temos o público das nossas redondezas e possivelmente elas serão
convidadas a participar a medida que a gente vai avançando. Mas os
profissionais da saúde estão mais expostos neste momento, então nada
mais justo que eles sejam os primeiros”, argumenta o infectologista.
O teste deve durar por pelo menos dois anos para avaliar a eficácia da
vacina e medir o tempo de proteção, checando se será necessária a dose
de reforço. Ainda não há previsão para a seleção de voluntários que
fazem parte do público externo das Osid.
Os nomes científicos das duas vacinas desenvolvidas são BNT162b1 e
BNT162b2. Elas são feitas com um pedaço do material genético do vírus –
no caso, o RNA mensageiro (mRNA), que codifica um fragmento específico
do novo coronavírus (Sars-CoV-2). O RNA é traduzido pelo organismo
humano em proteínas que induziriam uma resposta imunológica. O estudo
prevê a inclusão de cerca de 29 mil voluntários no mundo, mil destes no
Brasil, divididos entre São Paulo e Salvador.
O ensaio clínico aprovado é composto por três fases que acontecerão
simultaneamente, para obter uma resposta mais rápida na obtenção do
imunizante. O Brasil só participa da terceira fase do estudo. O estudo
vai avaliar a segurança, a tolerabilidade, a imunogenicidade e a
eficácia das vacinas contra a covid-19 em adultos. Estudos não clínicos
in vitro e em animais já foram realizados e os resultados obtidos até o
momento demonstram um perfil de segurança aceitável das vacinas
candidatas.
Idade
Na vacina da Pfizer, os voluntários podem ter de 18 a 85 anos. Já o
estudo da vacina de Oxford recrutou voluntários com idades que variam
entre 18 e 55 anos. A Anvisa autorizou nesta terça-feira, 11, a inclusão
de voluntários de até 69 anos para os testes de Oxford. As inscrições
dos voluntários iniciaram no dia 10 de julho e já estão encerradas. Ao
todo, são três mil voluntários no Brasil (29 mil emt odo o mundo), sendo
mil em Salvador (500 para a vacina real e 500 para tomar o placebo).
Os cientistas da Universidade de Oxford já anunciaram que a vacina é
segura e apresenta uma resposta imune em quem a testou. Os resultados
são das duas primeiras fases dos testes de imunização - a terceira
acontece agora em vários países.
Essa vacina foi desenvolvida através de um processo diferente das duas
da empresa Pfizer e BioNtech. Em Oxford, os cientistas pegaram um vírus
inofensivo e o modificaram geneticamente, acrescentando a proteína de
superfície (spike) do novo coronavírus para gerar uma resposta imune,
estimular a produção de anticorpos e de outras células de defesa capazes
de proteger o indivíduo contra a covid-19.
Nesta segunda-feira (10), a Anvisa autorizou que os voluntários
brasileiros que já receberam a primeira dose da vacina possam tomar uma
segunda, respeitando um intervalo entre 4 e 6 semanas. Segundo o órgão, a
expectativa é que, com a aplicação da segunda dose, novas informações
sejam acrescentadas nos estudos. No entanto, a assessoria do Instituto
D’Or informou que ainda não receberam uma autorização da Universidade de
Oxford para mudanças no protocolo.
O dentista Igor Menezes, 36 anos, que tomou nessa segunda-feira (10) a
vacina de Oxford, saiu do Hospital São Rafael já com data e hora marcada
para tomar a segunda dose: oito de setembro, às 14h. “Foi um processo
tranquilo. Eles me avaliaram, testaram se eu tive contato com o vírus,
assinei termos de comprometimento e não sei se a vacina que tomei foi a
do coronavírus ou o placebo, que é a vacina da meningite”, disse.
Igor explicou que não sentiu nenhum efeito colateral e que lhe foi
receitado paracetamol de seis em seis horas, durante 24 horas. “Eles
também me deram um cartão com o telefone para entrar em contato se eu
sentir qualquer sintoma forte e um outro que permite eu ser atendido
pelo hospital São Rafael”, disseram. Segundo Igor, as pessoas que
tomarem a vacina do placebo terão prioridade para receber a vacina da
covid-19 quando ela for aprovada.
Instituto Butantan
A outra vacina testada no Brasil, mas não em Salvador, é a Coronavac,
desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac Life Science em parceria
com o Instituto Butantan. O imunizante se mostrou eficaz e segura,
segundo a análise do comportamento de 600 voluntários vacinados na
China, durante a segunda fase dos testes clínicos.
Cada voluntário recebeu duas doses, sendo metade a vacina propriamente
dita e a outra metade placebo. De acordo com o que foi identificado nos
estudos, não existe nenhuma preocupação com relação a segurança da
vacina utilizada nos voluntários. Dentre as principais reações está leve
dor no local da aplicação.
A vacina desenvolvida pela Sinovac Life Science é uma das mais
promissoras do mundo porque utiliza tecnologia já conhecida e amplamente
aplicada em outras vacinas. O Instituto Butantan avalia que sua
incorporação ao sistema de saúde deva ocorrer mais facilmente.
O laboratório asiático já realizou testes em cerca de mil voluntários na
China, nas fases 1 e 2. Antes, o modelo experimental aplicado em
macacos apresentou resultados expressivos em termos de resposta imune
contra o coronavírus. A farmacêutica forneceu ao Butantan as doses da
vacina para a realização de testes clínicos de fase 3 em voluntários no
Brasil, com o objetivo de demonstrar sua eficácia e segurança.
Caso a vacina seja aprovada será realizada a transferência de tecnologia
para produção em escala e fornecimento gratuito pelo SUS. Os passos
seguintes serão o registro do imunizante pela Anvisa e distribuição em
todo o país.
Vacina russa
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, anunciou nesta terça-feira (11)
que a vacina contra o coronavírus, desenvolvida no país, foi registrada.
"Esta manhã foi registrada, pela primeira vez no mundo, uma vacina
contra a covid-19", disse ele em reunião com membros do governo. Segundo
o presidente, a vacinação será voluntária e estará disponível a partir
de 1º de janeiro.
Putin disse ainda que a vacina é tão segura que uma de suas filhas já
foi imunizada. "A vacina contra o coronavírus registrada na Rússia
mostrou alta eficácia e segurança", garantiu o ministro da Saúde russo,
Mikhail Murashko. O governo do Paraná anunciou que assina nesta
quarta-feira (12) um convênio com o governo russo para produzir a
vacina. Pelo acordo, Paraná poderá testar, produzir e distribuir a
vacina.
O diretor assistente da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas),
Jarbas Barbosa afirmou durante uma entrevista coletiva que a Organização
Mundial de Saúde (OMS) está em contato com autoridades da Rússia, a fim
de obter dados sobre a vacina para covid-19 anunciada por Moscou.
Barbosa ressaltou que, após ter essas informações, a OMS as revisará, a
fim de adotar uma posição "sobre essas e outras vacinas".
Já a Anvisa disse que não recebeu ainda pedidos de autorização para
pesquisa ou de registro de vacina elaborada pela Rússia. "Desta forma,
não é possível para a Agência fazer qualquer avaliação ou pronunciamento
em relação a segurança e eficácia deste produto antes que tenha acesso a
dados oficiais apresentados pelo laboratório", disse o órgão, em nota.
No dia 3 de agosto, em entrevista à TV Bahia, o governador Rui Costa
disse que entrou em contato com o embaixador da Rússia para demonstrar
interesse em uma parceria. "É importante que nós estejamos inseridos nos
diversos fabricantes, para que possamos ter, em breve, a
disponibilidade dessas vacinas aqui no Nordeste e na Bahia", afirmou na
ocasião.
Fonte: Correio